quarta-feira, janeiro 31

balada do homem humilde

o que espera o homem humilde sentado à beira do lago turvo? ele está sério e imóvel. o homem humilde parece impaciente. ao seu lado, repousam, enfileirados, um cachorro desnutrido, uma garrafa quase vazia, um saco amarrotado de papel pardo, três tocos de cigarro e um par de sapatos marrom.

o homem humilde olha para a frente, mirando um horizonte que não lhe pertence, como lhe pertencem o cão, a garrafa, o saco, as baganas e os sapatos. ele abraça os joelhos e deixa que a cabeça de cabelos sebentos caia por sobre os braços cruzados, apoiando neles o queixo. o cachorro imita o gesto à sua maneira, deitando-se sobre as patas posteriores e acomodando a cabeça magra sobre as patas dianteiras esticadas adiante do corpo.

o homem humilde está sério e imóvel. ele parece impaciente. o que espera o homem humilde diante do lago turvo? ele levanta a cabeça, cruza os braços sobre o peito e estira as pernas na direção da água. o cachorro se ergue sobre as patas dianteiras e mantém as traseiras coladas ao chão empoeirado.

o homem humilde agora apanha a garrafa com o braço esquerdo. leva-a à boca quase sem dentes e sorve o último gole do conhaque cor-de-pôr-do-sol. de súbito, levanta-se e é novamente acompanhado pelo cão, que se espreguiça com um grunhido agudo. em pé, mantém o olhar fixo no horizonte que não é seu, enquanto o cachorro o espia. o homem humilde está sério e imóvel. ele parece impaciente. o que espera o homem humilde diante do lago turvo?

ele dá um passo para trás e mais outro. o cão agora balança o rabo pelado. o homem humilde se agacha e junta duas pedrinhas pequenas, que atira no lago, uma após a outra. observa os círculos na água e cata mais duas, agora maiores. mas não repete o lançamento, guardando-as no bolso direito da calça cinza encardida. escolhe outras três, também grandes, e mete-as no bolso esquerdo.

de dentro do saco de papel amarrotado, tira uma sacola plástica; dela, uma cabeça depenada de galinha, com que acena para o cachorro para, em seguida, jogá-la no sentido oposto ao lago. o cão fareja o ar e dispara em busca do presente. o homem humilde volta-se de novo para o horizonte. o homem humilde está sério e imóvel. ele parece impaciente. o que espera o homem humilde diante do lago turvo?

o homem humilde lamenta não ter mais fósforos para acender as últimas baganas. ele não olha para trás enquanto calça os sapatos e vai entrando devagar na água. agora, só enxerga o horizonte que não lhe pertence. cada vez mais fundo, lá vai o homem humilde, ao mesmo tempo em que o cachorro sacode o pescoço da galinha no ar. o homem humilde afunda sem pressa e nunca mais volta. o homem humilde esperava a desesperança.

o outro lado da tristeza

as misses estão de luto.
os leitores de final de semana choram sem medida.
os fãs das tramas baratas soluçam pelos cantos.
os medíocres estão inconsoláveis.
os imberbes e os incultos fungam e encharcam lenços.
os consumidores da literatura raquítica devoram estoques inteiros de lexotan.
mas os sábios, ah!, os sábios, estes respiram aliviados: o imperador da leitura bastantão bateu as botas. vida longa à consistência!

terça-feira, janeiro 30

casa, comida e liberdade

no sítio, a elena pendurou um monte de casinhas pros passarinhos se achegarem quando precisam de abrigo. tem uns porongos ocos com palhinha dentro, além de minicondomínios pros voadeiros. tem também reservatórios de água e de alpiste, tudo suspenso em lugares acessíveis, na rota de pouso dos pequenos penosos. pra usufruir da hospedaria e da comilança, eles só precisam superar o medo dos dois pretossauros que guardam o paraíso. diante da tentação, a maioria é corajosa e nem dá bola pras bocarras descomunais. se eles soubessem de quantos marrecos e galinhas, entre outros vertebrados, a dupla já deu cabo...

também descubro que foi-se o tempo em que, pra atrair beija-flores, o povo usava aquela agüinha açucarada artesanal. nanananana! agora existe néctar industrializado e, diz o fabricante, nutricionalmente balanceado pra garantir o frenético bater d'asas. é só diluir um pozinho colorido na água, encher uma ampola gigante que tem na base umas florezonas espalhafatosas e esperar a farra. eu vi um colibri sair pesado depois de uma refeição que durou bem uns cinco minutos: metia o bico pontudo no miolo de cada uma das quatro flores e sugava longa e vigorosamente a bebida cor-de-maravilha; fez assim até se empanturrar da doçura. pelo tanto que bebeu, deve ter ido direto pra uma sessão do aa. guloso, mas livre, como deveria viver toda passarada.

o melhor amigo da vagem

da janela

lá tô eu, vêde?, dando oizinho pro mundo.

(mia fratella, o título do post é pra ti).

o caminho

sexta-feira, janeiro 26

troca de equipamento

vou-me embora pro sítio da elena, lugar sagrado no qual a única lei é não ter lei. lá, onde ninguém é obrigado a nada, vou me engalfinhar com o elvis, pensar oco e murchar na piscina. volto mais tarde, com novas aventuras.

para gáudio dos locais

riam-se, finem-se de gargalhar da minha fuça os que conhecem bem e/ou moram na sorridente capital. muito além da mera ignorância, até ontem eu JAMAIS tinha atinado com a travessia do largo da conceição pelo acesso da júlio de castilhos ao metrô. eu, nascida e criada bem aqui, achava que o único jeito de chegar à rodoviária, pra quem vinha do centro, era atravessar a passarela...

tô me sentindo qualquer cousa, menos uma esperta porto-alegrense da gema.

quarta-feira, janeiro 24

quem gosta de calor é colônia de bactéria

esse bafo nojento de verão irrita demais. e não tô falando de assadura, porra!

terça-feira, janeiro 23

megalegumes

a partir de hoje estes singelos legumes passam a integrar o megablog, portal cujo conteúdo antenado é alimentado por blogs e sites de responsa, aproveitando a instantaneidade da tecnologia rss.

por enquanto, tecnologia, internet e propaganda dominam a área. e já que os organizadores acharam que os legumes combinam bem com o cardápio, lá vamos nós. não consegui conferir com calma todos novos vizinhos, mas tem dois bem bacanas: o alfarrábio e o marketing de guerrilha.

vale a pena dar uma espiada no nosso recém-inaugurado albergão.

rainha das piscinas

tem dois anos que elegi a natação como a minha atividade física favorita. correr me dói só de pensar, caminhar eu acho monótono, ainda que o faça esporadicamente, e a pedalar eu até que me aventuro de quando em vez, mas a bundoca sofre por conta da buraqueira generalizada na sorridente capital. já as estripulias na água, três vezes por semana, me fazem feliz, equilibrada, cheia de fôlego e de disposição e, suprema maravilha!, vários quilos menos redonda.

nesses dois anos, interrompi as natatices duas ou três vezes, por frio, tostões mais curtos ou contusão, motivo da última parada, três semanas atrás. quando volto, custa umas duas aulas até recuperar o fôlego, sempre elogiado pelos mestres. pois retornei às piscinas na semana passada, depois de cinco dias de castigo em casa por conta de uma distensão na panturrilha esquerda. ontem, na terceira sessão pós-retorno, já com pulmões de atleta, senti que a distância entre a minha despretensão e as braçadas na classe master (rararararara! eu cheguei lá!) só pode ser percorrida se eu superar o horror que tenho às competições.

caí na água com dois colegas: uma senhorinha sessentona, cujas braçadas tensas, retas e desesperadas sempre me fazem pensar que ela está se afogando, e não crawleando, e um sujeito que deve estar a meio caminho dos 30 anos, bonitinho, braços fortes, olhos claros e simpaticíssimo, mas dono de pulmões de formiga. a senhorinha já conhece seus limites: nunca alcança o meio da piscina semi-olímpica sem interromper as remadas pra respirar em pé, com a cabeça todinha pra fora d'água. o guapo, por sua vez, nada 25m e ofega por dois ou três minutos antes de encarar a volta que completa a chegada. eu, desesperada pra me livrar dos quilos-extra, consigo fechar duas chegadas (ou 100m) sem nem um pausinha pra recuperar os bofes.

a profe, que cultiva uma exigência espartana para com seus pupilos, abriu a aula de ontem com um desafio: quantas chegadas de crawl os três patetas conseguiam fazer em 20 minutos? 'vou cronometrar aqui e vocês se puxem aí, hein! e nada de moleza!', sentenciou a tirana. e lá fui eu às braçadas, sem olhar pra trás. bem condicionadinha, quase sem parar, fiz dez chegadas no tempo proposto, 500m em 20 minutos. a senhorinha, coitada, fechou três idas até o meio da piscina, seguidas de três voltas caminhando, ou 65m de escassas braçadas apavoradas. o colega de olhos turquesa saiu-se melhor: cinco chegadas completas, ou 250m. quando soube do meu desempenho, a profe não coube em si: 'excelente, mocinha! se continuar assim, vai acabar correndo o próximo campeonato amador'. saí da água de peito inflado, me sentindo o michael phelps. tô na área: temam, gorduchos balzacões!

domingo, janeiro 21

mais pimenta

a imprensa, de modo geral, apresentou um desempenho muito aquém do que se poderia considerar anêmico no quesito registro dos 25 anos da morte da elis. teve até jornal local se trapalhando nas contas e matando a pobre cinco anos depois do real passamento... enfim, como o culto fundamentalista à baixinha responde pelo maior fanatismo que permito habitar neste corpinho, retomo a pauta pra dividir com a seletíssima esta maravilha que encontrei no loronix - um daqueles blogs de que falei aqui.

trata-se de uma versão estendida do vídeo que postei esta semana e que mostra o show da diva na suíça, no montreux jazz festival, em 1979. são 37 minutos de música, suor e algum nervosismo, que oferecem a infelizes como eu (que jamais tive a chance de assistir ao fenômeno ao vivo) uma síntese do que era, no palco, essa força da natureza batizada de elis regina carvalho costa: uma artista elétrica e peculiaríssima, de performance física quase ridícula, de tão desconjuntada, provida de um talento estarrecedor, sempre cercada da mais pura nata dos músicos brasileiros e arrasando no repertório sofisticado - dona, que era, de uma sensibilidade incomum, assim, meio midas, para garimpar compositores detentores de muito café no bule.

apesar do vídeo exibir problemas de sincagem (ainda mais perceptíveis da metade para o fim) e apresentar cortes toscos, é possível ver e ouvir elis, ainda que tensa, no auge da forma musical, saracoteando palco afora, brincando com o poderoso instrumento que guardava na garganta, rindo com seus 'bofes' (como ela gostava de chamar os craques que esticavam a cama pra ela se jogar) e desfilando um set list de babar - que inclui jóias do quilate de rebento, onze fitas, ponta de areia e samba dobrado.

a despeito de tudo, até da jam antológica com o hermeto pascoal (que, lamentavelmente, não está neste excerto), a apresentação de montreux é considerada por muitos, entre eles a própria elis, um momento menor da carreira dela (na época, insatisfeita com o resultado, ela convenceu a warner a não lançar o registro). aí a genialidade faz toda diferença: se tal deslumbre entrou pra história como um show indigno, imaginem a vertigem dos grandes feitos.

pra terminar, um mimo adicional: o especial de 20 e poucos minutinhos exibido pelo gnt em março de 2005, quando elis completaria 60 anos. foi desse programa que a globo pinçou as imagens raras mostradas em por toda a minha vida, que foi ao ar no finalzinho de 2006. delicie-se, pois, quem partilha comigo a paixão irremovível pela acachapante filha mais ilustre do iapi.

sábado, janeiro 20

animação é tudo na vida da pessoa

ai, ai... passei a manhã lavando louça e escutando bem alto no mp3 player a aretha franklin glorificar (you make me feel like a) natural woman. não é mimoso?

conversa

- tu gosta do que os gringos chamam de nu bossa, lounge, aquele som que faz pingar bálsamos mis nos ouvidos?
- arram, curto bragarai! por quê?
- nada não, é só uma experiência. tasca lá no google "luca mundaca" e seleciona
páginas do brasil.
(tá, eu faço pra ti: taqui, ó.)
- ué, mas que bobagem é esta? não tem resultado nenhum...
- pois é. eu também acho uma bobagem as gentes daqui ainda não conhecerem essa guria. ela é chilena, mas foi criada em são paulo, canta pra caralho e faz as platéias do hemisfério norte uivarem. mais um nome fodão dessa safra incomum na história recente da música brasileira. agora espia isso aqui, escuta o som bacana que ela faz e depois me diz se não te dá vontade de esbofetear quem prefere se intoxicar com aquela gente que se esganiça no domingão do faustão.
- eu, hein...

breve história de como o homem desaprendeu a escrever

dedão.
graveto.
bambu.
pena.
lápis.
remington.
tinteiro.
bic.
pc.
palm.
nokia.
a escuridão, a escuridão, a escuridão.

sexta-feira, janeiro 19

você na cabeça



são 25 anos anos desde aquele chocante 19 de janeiro que privou o brasil da mais completa cantora e intérprete que a gente já ouviu e viu pelaí. desde lá, não surgiu uma só artista que conseguisse sequer se aproximar de todo aquele talento embasbacante. nem vai, por melhor que elas venham se saindo. baita saudade da elis, a suprema e inalcançável elis.

quinta-feira, janeiro 18

non stop

excitante é a faina da madama
esquenta a barriguinha na massagem
refresca na piscina
e de noite turbina os instintos
por cima do amante inflamado

murcha é a lida da suburbana
torra a pança no quatro bocas entupido
ensopa no tanque
e de noite desiste de acender
o marido morno de trago

quarta-feira, janeiro 17

vibracall



assistam.

sangueira retrô

mais de dois anos depois de nos deleitar com o segundo e último episódio da saga de the bride/black mamba, quentin tarantino volta a nos fazer felizes. e agora em dose dupla: ele chega de braço dado com o parceiraço de priscas eras robert rodriguez (que dirigiu sin city, um drink no inferno e a impagável trilogia el mariachi-a balada do pistoleiro-era uma vez no méxico), dessa vez num taco-a-taco bonito.

grindhouse, a jóia que passaremos a cobiçar e admirar a partir de abril, na verdade não é um, mas dois filmes. cada infant (já nem tanto, é verdade...) terrible escreveu e dirigiu sua própria história de sangue e tiroteios em profusão, como lhes é peculiar. planet terror, povoado por zumbis famélicos, é o mimo de rodriguez, e death proof, que mistura assassinos de aluguel, carros e próteses de fogo, o de tarantino. kurt russell, bruce willis e fergie, a boazuda do black eyed peas, engrossam os casts do vintage must see, atualmente em fase de pós-produção.



aí vai uma provinha dos poderes tarantínicos, neste diálogo lapidar de death proof, entre as personagens de kurt russell e vanessa ferlito:
Stuntman Mike: Do I frighten you?
[Arlene nods her head]
Stuntman Mike: Is it my scar?
[shakes her head]
Arlene: It's your car.

o nome da tosqueira iluminada, grindhouse, homenageia as salas de cinema norte-americanas cuja especialidade eram as sessões duplas ou triplas de filmes baratos, embuchados de sexo a valer, violência e bizarria. surgidas na metade do século passado, elas tiveram fôlego até a década de 90, quando desapareceram por completo, virando fetiche de uma geração de cinéfilos e fonte de inspiração explícita dos próprios tarantino e rodriguez.

por conta disso, a montagem da película promete surpresas: entre planet terror e death proof os espectadores assistirão a trailerzinhos de filmes fake (um deles estrelado por nicholas cage, que encarnará um assustador sujeito chamado dr. fu manchu) dirigidos por maníacos como eli roth, de o albergue; rob zombie, ex-metaleiro esquisitão que tem no currículo de cineasta delicadezas como house of 1000 corpses e the devil's rejects; e edgar wright, pai da comédia de terror shaun of the dead. sim, vem aberração da boa por aí...

deu água na boca, weird creatures? pois aqui tem um teaser da belezura, mais outro e, aqui, o site oficial (precisa desabilitar o bloqueador de popups e ter um pouquinho de paciência até carregar o conteúdo da página). divirtam-se, malvados!

sábado, janeiro 13

oxigeniais

já tinha visto mariana aydar cantar numa tímida e mínima janela do altas horas, do sergio groisman. já havia lido algumas coisas sobre ela em lugares como o ejazz, a bravo e a wikipedia. mas ainda tinha escutado quase nada da moça, que já tem três álbuns lançados - um como vocalista da banda caruá, batizado de rosa, e os solos mariana aydar, de 2003, e kavita 1, de 2006, o primeiro por uma major, a universal music.

fiz isso há pouco e chapei com a qualidade da paulistana de 26 anos, filha do premê mario manga e da publicitária e produtora musical bia aydar. neste país de trilha de novela, talvez a mariana demore pra chamar a atenção, igualzinho ao que rolou com a céu. também, quando descobrirem a guria, vai ser de arrasar. e, quem sabe, as pessoas comecem a perceber que uma preciosa safra de cantoras - na qual, além da mariana, fazem bonito céu, katia b, cibelle cavalli, ceumar, thalma de freitas - está arejando e sofisticando um mercado até agora infestado por bagaceiras-que-casam-com-diretores-globais-cantam-breguices-horrendas-em-rede-nacional-e-juram-que-estão-abafando. e não dou nome aos bois móde não abrir mais brechas pra essas excrescências.

aproveitem o embalo e reservem um tempinho pra escutar, também, apollo nove - que um dia, a exemplo da mulherada fera no gogó, na produção e no repertório, há de cair nas graças das gentes de bom-gosto.

sexta-feira, janeiro 12

na laje

tô achando bem mixurucas os templates do blogger. mas ainda não tenho o topete de chafurdar nas delícias do wordpress: sou analfabeta funcional em htmls e phps e pqps!, e a bobagem que fiz migrando pro beta praticamente afunda as minhas pretensões de importar de o que já tem aqui.

então, naquelas de só-fazê-um-puxadinho-merrmão, vou brincar com o layout e o conteúdo, experimentando umas bobagens. como aquela que tá logo ali à direita, embaixo, passando os links. por enquanto achei bala. como quem manda aqui sou eu, eventuais reclamações serão diligentemente ignoradas.

monkey gone to heaven

nesta semana, a toda-bacana speculum põe na roda uma seleção dos treze discos que mais influenciaram a cena pop'n'roll mundial, na opinião do marcelo costa, editor do zine scream & yell. além de incluir um dos melhores dos favoritos da titia aqui, a grande virtude dessa peneira informal e altamente subjetiva é que tem nenhum dos (serei linchada?) pentelhos beatles, apesar do (serei esquartejada?) intragável bob dylan bater aquele pontinho. mas tem outra surpresa boa: o freqüentemente subestimado marvin gaye.

também já tá no ar, na mesma specullum, o quinto número do mojo books, projeto que transforma em contos pirados os álbuns mais foda do cancioneiro pop. como que pra queimar a ponta da minha mimosa lingüinha, a bola da vez é revolver, dos quatro malas de liverpool. se bem que, se não precisa ouvir, é só ler, até que vai... e a certeza de que nem tudo está perdido: tem technique, do new order, e black celebration, do depeche mode. e na semana que vem entra o portishead, com dummy, pra, na outra, chegar o próprio doolittle. os fãs mais organizadinhos podem baixar e imprimir os livrinhos no tamanho exato pra rechear os cedês originais.

quarta-feira, janeiro 10

aleluia, clave de sol!

tão vendo só? minha idéia pode não ser original, mas tem potencial, inclusive pra engambelar coiós, tanto quanto a renascer.

na nova igreja, além do houaiss e do cravo albin, tom jobim vai ser deus; rita lee, a nossa senhora; joão bosco, o jc; e elis, o espírito santo - aceito sugestões bem menos nobres pra nominata dos santos milagreiros. e o valor do dízimo haverá de ser calculado sobre uma substancial porcentagem da vendagem dos discos do roberto carlos. é uma baba, mora?

terça-feira, janeiro 9

não vi, mas gostei


antonio houaiss é um dos deuses que cultuo. idem pro ricardo cravo albin. agora, com essa relíquia, dá até pra fundar uma nova religião.

xô, censura!

tá, tudo bem, soquearam a última flor do lácio, mas a imagem é tudo e deve tomar conta dos fotologs engajados. começou aqui.
(valeu, ninininini!)


suíte: caiu a censura - ou quase.

segunda-feira, janeiro 8

no broadcasts

num precedente aterrador, a sujeita aquela que fornicou despreocupadamente em mares d'espanha conseguiu patifar o acesso de muita gente ao youtube. enquanto uns mais gaiatos apostam que é a própria ossuda que anda postando o tal vídeo - só pra sacanear a internautada e faturar mais umas patacas de multa - outros divulgam várias manhas pra burlar o bloqueio.

a amante desastrada e seu príncipe babão, com a ajuda da justiça brasileira e dos provedores menos esclarecidos, não sabem o tamanho do vespeiro em que se meteram. haja alga pra esconder mais essa estupidez.

domingo, janeiro 7

universo paralelo

pululam blogs que partilham músicas e até álbuns inteiros. na maioria absoluta, claro, sem permissão. tem de um tudo, de todo canto do planeta, um cardápio que abarca desde standards popularescos contemporâneos a verdadeiras raridades dantanho. caí num a partir da dica de um amigo, fucei um pouco e descobri um mundo à parte. chega a ter blog cuja especialidade é listar centenas de semelhantes que conduzem a downloads pra todos gostos. em uníssono, os blogueiros avisam que só fazem divulgar links pra servidores que armazenam os arquivos em mp3 e recomendam que o usuário compre os álbuns que baixar e aprovar. pirataria politicamente correta, sacumé?

(parênteses oportunos: ganhei de mamã, entre outros mimos bacanas, a edição especial que a trama fez do álbum elis, o último da melhor cantora que o brasil já conheceu, gravado em 1980, e que ora ganha versão remixada e remasterizada. o bônus é um dvd que traz a derradeira entrevista, concedida à tv cultura dias antes do fatídico 19 de janeiro de 82. no jogo da verdade, diante de salomão esper, zuza homem de mello e maurício kubrusly e, como de hábito, (quase) sem meias-palavras, elis já esperneava contra as safadezas da indústria fonográfica que bem mais tarde, somadas à revolução digital, terminariam por escancarar as porteiras pra pirataria desenfreada que a gente conhece hoje.)

agora é a vez da blogosfera (sorry, cardoso!) mandar brasa como propagadora do baixe-e-ouça-grátis. mais um capítulo desse nhém-nhém-nhém que ainda vai dar muito pano pra manga, até que surja um fórmula capaz de equalizar os interesses das gravadoras (que um dia hão de ser só produtoras, quando muito, e distribuidoras), editoras, dos músicos e, sim, da gente, que consome música - e filmes e literatura e arte e tevê e softwares e jogos e notícias e tudo o mais. mas aí já é conversa pra uma outra hora.

quinta-feira, janeiro 4

te cuida, buzzmetrics!

expressões, frases, opiniões, palavras-chaves e imagens? tô tendo idéias malvadíssimas pra confundir os marqueteiros fuxiquentos...

calorebas e neuronices

um pouco antes do natal, já com o calor à espreita, conversava com um amigo sobre as reações dos corpitchos humanos às altas temperaturas. ríamos das nossas coincidências biológicas - pele alvíssima e a predisposição ao suor abundante em condições ambientais muy tórridas. ambos fugimos do sol com afinco redobrado no verão e mijamos bem menos que os demais mortais, compensando a preguiçosa fisiologia renal com generosos hectolitros de transpiração.

agora há pouco, confabulando com mamã, concluímos que a tal hiperatividade sudorífera há de ser obra dos genes, já que ela, minha irmã e eu funcionamos como destilarias superavitárias durante o império do sol. dividi com a dona léa o constrangimento que sinto ao, verdadeiramente, derreter em público quando bato perna rua afora nesses tempos bafentos. morro de vergonha de pingar absurdamente: qualquer roupa fica ensopada, a cabeça ganha uma patética coroa de gotas, as pessoas te olham com um quase-asco pra lá de desconfortável. somos, as três, iguaizinhas nisso, concordávamos. aí, veio a absolvição:

- outro dia tua irmã foi a uma médica ortomolecular que disse que o suor excessivo tem a ver com atividade cerebral intensa.
- o quê? quer dizer então que quem sua demais é porque pensa demais, mamãe?
- é, mais ou menos isso.
- então quando eu encontrar alguém suando em bicas, como nós, faço uma reverência, que há de ser um intelectual, um sábio, um pensador?
- acho que sim.
- urrah!


se a teoria tem algum fundamento, não sei. mas, por via das dúvidas, da próxima vez que algum de vocês cruzar por aí com uma criatura liquefeita, nada de nojo e muito respeito, viu? trata-se de alguém com miolos privilegiados. sim, muito prazer, eu derreto! agora, com licença, que preciso correr até a ipiranga e contar pro paulo, aos litros, que nóis semo fodão.

quarta-feira, janeiro 3

é refresco


tá, tá, nem só de temperaturas infernais viverá a sorridente capital neste seboso verão. o santander cultural divulga programação bacanérrima de música e cinema para janeiro e fevereiro. tudo baratinho, tudo daqui ó. quer ver só?

janeiro
dia 10, quarta-feira, ceumar e dante ozzetti.
dia 16, terça, pedro verissimo e izmália.
dia 23, terça, celau moreira e geraldo flach.
dia 30, terça, arthur de faria e adriana deffenti.
(os shows são sempre às 19h. ceumar vai cantar no átrio, a dérreal, e todos os outros tocam na sala multiuso, a risíveis cinco pilas)

fevereiro
dia 6, terça, marcelo delacroix e simone rasslan.
dia 7, quarta, tia surica e nilze carvalho.
dia 13, terça, vanessa longoni e angelo primon.
dia 14, quarta, miltinho e dóris monteiro.
(também sempre às 19h. os shows dos dias 7 e 14 vão rolar no átrio, a dérreal. os demais, na sala multiuso, a só cinco patacas)

as atrações da telona começam na semana que vem, dia 9. vai ter janela da alma, do joão jardim e do walter carvalho, o ano em que meus pais saíram de férias, do cao hamburger, wood & stock - sexo, orégano e rock'n'roll, do otto guerra, a concepção, do josé eduardo belmonte, intervalo clandestino, do eryk rocha, cinema, aspirinas e urubus, do marcelo gomes, árido movie, do lírio ferreira, cafundó, do paulo betti e do clóvis bueno, soy cuba - o mamute siberiano, do vicente ferraz, o sol - caminhando contra o vento, da tetê moraes, e o céu de suely, do karim aïnouz. os ingressos saem por módicas seis realetas e inacreditáveis três pilas pros que têm 60 ou mais primaveras na cacunda e pra quem é cliente santander banespa. agora, o tiro de misericórdia: o ar-condicionado faz bater queixo - dá até pra levar um casaquinho e fazer de conta que é outono. tem coisa melhor?

terça-feira, janeiro 2

belzebu rulez

começou. sim, o novo ano, e também o !#*$!&*"#! calorão. pra mim, mocinha glacial, é o pior período das 52 semanas vindouras. sofro feito urso polar na áfrica central, iceberg no equador, pingüim no oriente médio. nem a sorridente capital ora aliviada das multidões habituais compensa os martírios do sufocamento, do mal-estar, do suor em profusão e da modorra interminável.

é voz corrente entre a gauchada heróica que é obrigada a penar aqui durante o bafo anual a máxima 'não fosse o calor, porto alegre seria o melhor lugar do mundo no verão'. eu mesma sempre sacava desta obviedade naquelas conversas moles com taxistas, vizinhos e o dono da venda mais próxima, até acordar pro fato de que a cidade só fica deserta em janeiro e fevereiro porque é insuportavelmente quente viver no paralelo 30 no auge da caloreba. ou seja, pra minha infelicidade, porto alegre sem filas e com espaço de sobra a, no máximo, 20º é um sonho irrealizável. inda mais nesses tempos de superaquecimento global.

há cousa de quatro dias nosso ardente condomínio urbano acena com as mais altas temperaturas máximas do país. é, sim, porto alegre, a capital do que um dia foi o estado mais frio do brasil, aquele mesmo das românticas quatro estações bem definidas, a porção territorial fincada inteiramente na chamada zona de clima subtropical, com verões amenos e invernos bem pronunciados. ironicamente, temos vivido num inferno comparável ao enfrentado o ano inteiro pelos bravos e resistentes teresinenses.

seria o prólogo do apocalipse? se for, parece que quem vai comandar o espetáculo não chegará do céu: o mestre de cerimônias será o próprio tinhoso, sulfuroso senhor supremo da canícula. pués vade retro, bicho escaldante e fedorento, que eu tô é querendo de volta a elegância das temperaturas abaixo de 15º!