segunda-feira, janeiro 28

anactrônica

máquina que dá pau. e-mail que dá pau. backup que dá pau. rede local inacessível. internet inacessível. todo o teu trabalho inacessível.

hay dias que bate uma saudade morna daquele tempo em que o máximo de merda eram os dedos podres de tinta pra trocar o rolo da olivetti lettera.

e as margaridas da ibm elétrica, hein? ai, que saudadêra das margaridas das gordotas azuis.

quinta-feira, janeiro 24

lambe-lambe

e havia
(cruzes!)
o velho
de olhar
tão vasto

que quase
embaça
quando
embesta
de habitar

o terreno
estéril da
vida que
já foi
vivida

e não volta

quarta-feira, janeiro 23

mundo cão, mundo bão

embora sempre haja coiós pra considerar a internet uma bolha maligna com vida própria, criação do tinhoso pra desencaminhar de vez a pobrezinha da raça humana, tenho pra mim que a grande rede não passa de só mais um meio, uma outra via pra reproduzir em hi-fi o nosso mundinho, que tanto pode ser triste como colorido, né mesmo?

pois em tempos de reinado absoluto desta fartura de possibilidades, como, por exemplo, apresentar pra um filho o pai que ele nunca conheceu, porque morreu dois meses antes dele vir ao mundo? blogando, claro. pelo menos é assim que a cristiana guerra, publicitária de minas gerais, tenta resolver uma de suas contendas com o destino - ela que é órfã de pai e mãe e já perdeu dois nenês.

aí, sem qualquer aviso, o coração do namorado, o também publicitário guilherme fraga, parou de bater em janeiro do ano passado, quando o filhote deles ainda dependia só do cordão umbilical.

pra mostrar pro pequeno francisco, no futuro, o quanto seu pai era bacana, e também pra exorcizar uma dor assim, descomunal, cristiana respirou fundo e pôs mãos à obra. o resultado é um tocante diário sobre sua história de amor tragicamente interrompida. um relato valente e terno, que não deixa cair a peteca da nova paixão, o cisco, como ela chama o seu toquinho de gente.

mas esse é só o foco comovente da cousa. que a publicitária mantém outros dois blogs pra escancarar mais um causo de amor, agora com a moda. aqui ela posta fotos de seus looks diários e aqui, no melhor estilo brechó virtual, passa nos cobres os modelitos que já cumpriram seu papel na produção dela de cada dia.

um só vivente, infinitos ângulos. a internet, ignoram seu bobos críticos, é só o reflexo irretocável da experiência humana na terra bem assim como ela é: tonta de dramas e risos. e nada mais.

domingo, janeiro 20

ave, irmão de cor!

regozijem-se! ele voltou.

desnecessário dizer que com preciosidades.

quem não assinar o feed é mulher do padre.

sexta-feira, janeiro 18

e se o povo desse um tempo nessas de fazer carro e filho, hein?

o mundo
já tem gente e
autos demais.

chega de
recém-nascidos e
carros zero.

quer
herdeiros e
carangas?

tenha só
os que já
existem por aí.

sábado, janeiro 5

maior que a imagem

a safra de final de ano rendeu bastante alimento pra cabeça desta que vos rabisca.

um dos acepipes é o só numa multidão de amores, biografia da atormentada maysa lançada pelo jornalista cearense lira neto em meados do ano que expirou, e que eu, confessa apaixonada por histórias reais, tava há horas namorando.

além do fato de ser a autora e intérprete da antológica fundo-do-poço meu mundo caiu (cuja primeira gravação, aliás, completa 50 anos agora em 2008), eu sabia quase nada sobre a soberana da fossa. e sempre que ouvia falar sobre ela, duas únicas imagens me vinham à cabeça: os inconfundíveis olhões verdes e a macabra brasília azul toda retorcida sobre a ponte rio-niterói, resultado do acidente que a matou no início de 1977.

tá, também sabia que era dela a (pelo menos pra mim) versão definitiva de 'ne me quitte pas', mas não muito mais que isso. então, motivada pela leitura, fucei a web atrás de vídeos e quejandos, e acabei descobrindo o número que segue:



implico com aquela base de repertório bregadarkpassional da finada, mas depois de devorar o livro, e vê-la cerrando os dentes enquanto vomita a dor da canção de jacques brel, começo a desconfiar de que ela era mais, muito mais que um belo par de olhos e a maluca etílica que cortou os pulsos incontáveis vezes antes de se espatifar a caminho da então desabitada maricá. baita figura essa maysa, viu? baita figura.

isso tem que ter fim

mui bela e oportuna a campanha lançada pela rbs pra combater a violência no trânsito. acerta em cheio essa gurizada que enche a cara e sai a zunir rua e estrada afora com seus autinhos e motinhas potentes.

mas teima em ser berrada uma perguntinha incômoda: estaria o responsabilíssimo conglomerado dos sirotsky disposto a renunciar aos anúncios de montadoras e revendas de bólides, em nome da redução de acidentes?

yep, porque só os ignorantes, míopes e mal-intencionados não relacionam o torra-torra irracional de veículos automotores ao aumento insuportável das ocorrências, fatais ou não, de trânsito. as pessoas não têm casa, mas têm carro. e carro, como se sabe, é arma voraz nas mãos de quem não reúne equilíbrio suficiente pra guiá-lo.

precisa nem ser muito esperto pra juntar lé com cré: quanto mais condutores afoitos, despreparados e inexperientes circularem pela tupinilândia, mais incharão as estatísticas da carnificina motorizada. fundamentalmente num país em que a fiscalização ou inexiste ou é vaptvuptmente corrompida, a educação é pífia e os investimentos que poderiam qualificar as malhas viária e rodoviária vão parar em obscuros cuecões.

eu aposto a carteira de habilitação que jamais cobicei que se a sanha da indústria automobilística fosse minimamente aplacada, o número de acidentes despencaria num estalar de dedos.

e aí, rede brasil sul, que tal contribuir de verdade pra civilizar o trânsito?