é melhor ser fodão ou ter sorte?

demorou, mas eu vi. match point, como não cansaram de avisar os homens da imprensa especializada, nem parece, mesmo, um filme do woody allen - o que, pra mim, que sou fanzoca do diretor-com-voz-de-pato-natural, não significa um atrativo adicional. tava curiosa e tal pra ver esse allen disfarçado. então, quando a eva chegou em casa com o dvd debaixo do braço, anunciando que a minha sogra (que abomina o baixinho e assistiu ao filme sem saber que era cousa dele) tinha a-do-ra-do tudo, fiquei indócil no partidor. ora, veja, uma unanimidade na filmografia do marido da soon-yi previn!

ao som de uma ária (sim, ópera, e não o onipresente jazz. porque ficava mais barato, explicou em entrevista à istoé, ainda no ano passado, o diretor quatro-olhos) que eu não vou saber qual é, o negócio começa assim:

(câmera enquadra uma rede de tênis. uma bolinha amarela passa pra lá e pra cá, como se uma partida estivesse rolando, mas sem que o espectador possa ver os jogadores, só o vai-vem próximo à rede. entra um locutor em off:)
o homem que disse 'prefiro ter sorte a ser bom' entendeu o significado da vida. as pessoas temem ver como grande parte da vida depende da sorte. é assustador pensar que boa parte dela foge do nosso controle. há momentos em que a bola bate no topo da rede.
(a imagem congela na bolinha que acaba de tocar a rede. segue a locução em off:)
e por um segundo ela pode ir para o outro lado ou voltar. com sorte, ela cai do outro lado e você ganha. ou talvez não caia e você perca.
(blecaute)

o que se vê, na seqüência, é um filme com um inegável tom woodyallenesco. nos diálogos (como não poderia deixar de ser), nas cores, na fotografia, na sofisticação. e o parentesco pára por aí. todo o resto é uma trama tensa, carregada de suspense, que ilustra espetacularmente o argumento do prólogo. e que - aí, sim - distante do estilo allen de contar histórias, chega lotada de sexo, dúvidas, ansiedade, mentiras, promessas, ilusões, frieza, desespero e ambição. o final? ah, a bolinha cai pra um dos lados, claro. se o do talento ou o da sorte? só posso adiantar que o homenzinho ruivo acertou a mão e, pelo menos no jogo de fazer cinema, deu empate entre a competência e a fortuna. bom pro allen e sorte nossa. game over.

sua excelência, a buzanfa magistrada

deu no jornal: a 3ª região do tribunal regional federal, que fica em são paulo/sp, torrou exatos R$ 164.891,18 na aquisição de 32 cadeiras e sete sofás para acomodar as egrégias bundas de seus desembargadores.

fui às contas e descobri que com esse dinheiro é possível comprar, a preços de mercado, 81.630kg de arroz e feijão ou 749.506 comprimidos de ácido acetilsalicílico ou 11.037 cestas básicas de material escolar para o ensino fundamental.

mas os insignes homens da lei julgaram ser melhor investir os reais doados por nós, a brazucada que paga impostos, em opulentas acomodações para suas bundocas flácidas, mas bem alimentadas, saudáveis e doutoradas. donde se conclui que no brasil mais vale um rabo confortável e luxuosamente assentado do que um cidadão vivendo em condições minimamente dignas.

e ainda tem gente acreditando que tudo pode ser melhor...

família brasileira versus dez amigos

o brasil é mesmo a república do faz-me rir... uma nação que chegou aonde está - numa guerra civil escancarada, pra quem ainda não percebeu - quase que exclusivamente por conta da histórica negligência com a educação, vem posar de guardiã da moral(?) e dos bons(?) costumes, sinais inequívocos da tal educação que tanto nos faz falta? santa hipocrisia, né, meus dez fiéis amigos! quem nunca se masturbou que rasgue a primeira página da vida (afe, trocadalho!)...

acaso não pode uma mulher negra, pobre, inculta, quase septuagenária e falando no mais autêntico idioma popular brazuca escancarar as pernas no final da sacrossanta novela das oito? e desde quando sexo na telinha é novidade? a cláudia raia e o gianecchini podem passar oito meses se roçando e gemendo e derrubando paredes que tá tudo bem? o impoluto chefe de família que sonha em comer a amiga da filha se choca quando o assunto é gozar? ah, claro, pros fundamentalistas da moral, sexo e prazer são tão incompatíveis quanto uma entrada USB e um cabo paralelo. nem adaptador dá jeito...

a mui honrada família brasileira tá precisando se enxergar. a mui honrada família brasileira tá precisando conhecer o valor dos dez amigos. a mui honrada família brasileira tá precisando admitir que trepar é fantástico - nem que seja com a gente mesmo, nem que seja em horário nobre, nem que seja ao kitschérrimo som do rei - pra mode essa gente avessa à realidade nuinha e cruinha deixar de ser retrógrada.

e viva a siririca!