quinta-feira, outubro 25

e quem haveria de resistir?

quase me encrenquei em casa, mas digo e repito: com uma cute-cantada dessas, eu daria até pra um orangotango albino.

primeiro, a versão britânica, a mesma que roda aqui no brasil:


agora, a taiwanesa. o casal não é porreta como o do primeiro comercial, mas o chega-mais na finaleira é tão delicioso quanto um baita góldecocacól:

o terror das poltroninhas

senhores, eis algo de que muito me orgulho: não tenho carro, nunca terei, jamais me atraiu esta pequeneza d'alma. mentira... já fui mundana, sim: na adolescência, me via pilotando um veloz conversível na estrada que costeia a lagoa dos barros, ali logo que passa o pedágio da freeway, em osório. sonhozinho flor de provinciano, néam?

o lance é que (ufa!) muita coisa mudou desde que abandonei a pieguice juvenil (e não faz muito tempo, segundo as contas de mamã...). agora, me descubro caidinha por bicicletas, lotações, táxis e metrôs - nem tanto os ônibus, é verdade, especialmente no verão da sorridente capital... - e rosno pro mundaréu de carros que entope ruas e rodovias em todo canto.

nesta vibe de independência mecânica, também capricho nos muxoxos pra indústria automobilística, que a cada giro completo do planeta asmático em volta do sol despeja nos cruzamentos milhões de autinhos bestas, trocentos modelos diferentes, tudo com a primeira parcela só lá pra quando o teu filho que ainda nem nasceu completar 15 anos.

e desprezo os motoristas que trafegam solitários, cada qual egoisticamente aboletado em seu veiclinho reluzente.

e amaldiçôo as construtoras que erguem imóveis com dúzias de vagas na garagem pra cada proprietário.

e abomino as famílias em que cada integrante tem seu agente poluidor particular.

e perco as forças quando ouço falar que a terceira perimetral, cujos benefícios pro tráfego de porto alegre seriam relativamente duradouros, não tem nem cinco anos de uso e já tá parecendo a marginal pinheiros em dia de tempestade fodástica.

não tenho carro, e também não fiz filhos; depois de curada da puberdade, nunca pensei em tamanha deusmelivrice (e só agora me ocorre que gente como eu há de ser o pesadelo mais tenebroso de quem fabrica aquelas poltroninhas infantis pro banco traseiro dos autos).

falem o que quiserem desta capitã-caverna que vos escreve, mas jamais digam que minha jornada sobre a terra deixou qualquer rastro de carbono além do que constitui este corpinho alvo e roliço herdado de mamãe e papai.

terça-feira, outubro 23

belezumes

trabalhar em casa. de roupa velha e havaianas.

segunda-feira, outubro 22

horripilânças

qualquer cousa, animada ou não, de mocassim preto e meias brancas.

sábado, outubro 20

aula de narcolepsia

terça-feira, outubro 16

deckard & rachel

mais assustadoras que as previsões do cientista maluco são as próprias gentes: na hora em que li a matéria e conferi a enquete ('você acredita em relações amorosas entre humanos e robôs?'), mais de 47% dos votantes criam em ter coisinha com pedaços de lata.

das duas uma: ou os geekinhos são uns pândegos ou que medo eu tenho desses bichos de 32 dentes e 23 pares de cromossomos.

menos mal que quando a água doce acabar e for moda desposar máquinas, minhas mui humanas cinzas vão estar cansadas de repousar no sopé do morro do farol.

verprobios famesin

em rio que tem piranha ninguém mete a colher.
em briga de marido e mulher jacaré nada de costas.

a bom entendedor não se olham os dentes.
a cavalo dado meia palavra basta.

cão que ladra não move moinhos.
águas passadas não mordem.

quem não chora não teme.
quem não deve não mama.

a corda sempre arrebenta, mas não falha.
a justiça tarda do lado mais fraco.

cada louco no seu galho.
cada macaco com sua mania.

a mentira é boa conselheira.
a noite tem pernas curtas.

beleza pouca é bobagem.
desgraça não põe mesa.

a ocasião é inimiga da perfeição.
a pressa faz o ladrão.

de pequenino é que se vai ao milhão.
de tostão em tostão se torce o pepino.

a fome ensina a gemer.
a dor é o melhor tempero.

antes só do que nunca.
antes tarde do que mal acompanhado.

de boas intenções a galinha enche o papo.
de grão em grão o inferno está cheio.

há males que vem para um pé doente.
há sempre um chinelo velho para bem.

gato escaldado tem cem anos de perdão.
ladrão que rouba ladrão tem medo de água fria.

deixa estar, jacaré, que o santo é de barro.
devagar com o andor, que a lagoa há de secar.

o que os olhos não vêem o bicho não come.
o que é do homem o coração não sente.

depois da tempestade se vai ao longe.
devagar vem a bonança.

quem tem boca tem medo.
quem tem cu vai a roma.

segunda-feira, outubro 8

meu pódio

pois bem. por inacreditáveis dez pilas cada, enfileiramos 14 espetáculos no festival que acabou faz uma semana e pouco.

claro que tinha joio no trigo, sempre tem, neám. mas o trigo... aaaaahhh, delícia!

promessa cumprida: taí o meu ranking, em ordem crescente de belezura. há empates, que, como se sabe, a gostologia não é uma ciência exata.


11º lugar: no me olvides
como disse uma amiga, o primeiro show sem bis que vi na vida. e não foi por falta de vontade do cantante... o villalba pode ser um grande produtor cultural, um puta amigão de artistas gaúchos genteboa, mas não canta um ovo. e olha que a orquestra velázquez era bem decente. foi show pro cabra-hermano pegar mulher, boba, sopra o tinhoso que mora aqui no meu ombro direito. maldade!


10º lugar: el camino a la meca
china zorrilla é só uma respeitável octogenária que ainda atua. uma boa atriz, é verdade, mas nem isso a tal pecinha soube explorar direito. espetaculozinho chato, muuuuito chato. deu tanto sono que um sujeito na mesma fila em que estávamos roncou o quanto quis. não vi elsa e fred, mas, por alá!, certamente é menos pior que o tal caminho pra meca.


9º lugar: la divina
pois é. tinha tudo pra ser bom. o biño sauitzvy é um cara talentoso, o argumento prometia, o cenário era razoável, a música e a luz também. o nando messias, com quem tive o prazer de trabalhar no hitchcock ri, em 1999 e 2000, tava na jogada. mas foi um festival de deixas dramáticas desperdiçadas e a coreografia era tão já-vi-isso-antes que não deu nem pro início. pena.


8º lugar: crucial dois um
mais uma boa chance jogada fora. o gilson vargas, estreando no teatro, é um cineasta inteligente, o paulo scott, um escritor original pacas. o cenário e a luz faziam uma dobradinha pra lá de contemporânea. mas a boa impressão não resistiu à segunda cena. atores ruins (nervosos?), dicção horrenda, poder de convencimento zero. inda assim, saí da sala e tasquei três estrelinhas preles na ficha do júri popular do prêmio braskem. é teatro local, porra, eles merecem o reconhecimento. quem sabe reescolhendo o elenco, néam?


7º lugar: satolep sambatown
sou fãzoca do vitor e dou gritinhos de prazer com qualquer percussão bem executada. do marcos suzano, conheço muito pouco, e foi aí que a porca espiralou o rabo: fui ver os dois caras com uma puta expectativa, alimentada pelas declarações pré-show do vitor, de que a música dele passava longe do ritmo (harmonia rica é um prato cheio pra qualquer percussionista mais inspirado), e descubro que o suzano não é um ritmista no sentido exato da palavra e, pra mim, pouco acrescentou ao repertório do embaixador pelotense do frio (aliás, que penteadinho medonho, hein?). o que teve de melhor foi a canja da katia b e o vitor respondendo a um empolgado da platéia, que pediu 'ramilonga': 'nem pensar. esse é um capítulo encerrado da minha vida'. ufa, menos mal!


6º lugar: hoje é dia do amor
furor alegre na fila: texto porno-místico do joão silvério trevisan na boca de um sadomasoquista monologante. o risco era grande, mas podia ser bom. e era. menos o ator (ex-galã da malhação e das malditas chiquititas), cuja expressão vocal não convencia nem um cactus, embora tivesse um admirável condicionamento físico: mais de uma hora peladão (com os documentos contidos por CORRENTONAS de tamanho proporcional, se é que cs me entendem...), de joelhos, com os braços presos, não é pra qualquer macho. boas mesmo eram as referências religiosas (algo como 'o catolicismo é uma viadagem'. hahahaha!) e a derradeira frase: 'hoje é dia do amor, seus filhos da puta, e não vai ter final feliz porra nenhuma!'. mazá, iconoclastinha pintudo!


6º lugar: edmond
texto estranho, e a platéia ria-ria-ria das piadinhas racistas e homofóbicas. o protagonista, marco antônio pâmio, ganhou da APCA (associação paulista de críticos de arte) o prêmio de melhor ator, ano passado, pela performance e foi merecido: o cara é uma das melhores cousas da peça - que tem cenários inteligentes e seqüências quase cinematográficas. ainda dá pra melhorar bastante as passagens de cena, feitas pelo próprio elenco, que movimenta os painéis cenográficos pelo palco (claro que, nem de longe, se compara à proposta apurada e precisa do théâtre du soleil em les éphémères). no final, até dava pra perdoar as piadinhas de mau gosto: o personagem do pâmio termina preso, tascando uma bicotinha num puta negrão gostoso. yeah!


5º lugar: convergence 1.0
muito original o tal adrien mondot, com aquela gigante tapadeira translúcida na boca de cena, atrás da qual rola praticamente todo o espetáculo mezzo lúdico, mezzo techno. dá pra fazer pecinha boa brincando com bolas, bolinhas, bolões e softwares modernosos, sin jamás perder la ternura, viste cabrón? só acho que o cara precisa ser fodão de verdade numa aventura assim: não dá pra deixar as bolotas caírem, tem que treinar até doerem os bracinhos, meu filho!


4º lugar: prêt-à-porter 9
teatro minimalista em estado puro. a turma do CPT, leia-se antunes filho, uma gurizada esperta, como não poderia deixar de ser, trouxe à sorridente capital um espetáculo despojado, ainda que pretensioso, no bom sentido. tudo muito econômico e simples, porque teatro de verdade também pode ser feijão-com-arroz, é só questão de acertar o tempero. e isto a boiada escaldada do mitológico diretor sabe fazer bem - ou 'toma pau' do hômi. aqui eles escaparam das chibatadas. melhor pra todo mundo.


4º lugar: a gaivota - tema para um conto curto
enrique diaz é um cara de sorte: tá sempre cercado de gente talentosa e destemida. num outro poa em cena eu conferi 'a paixão segundo gh', da clarice lispector, e chapei com a qualidade da direção dele e da atuação da mariana lima, baita atriz que divide as contas de casa (e mais outras cousas) com ele. nesta livre adaptação de um dos clássicos do deus tchékhov não foi diferente. loucura total aquela metapeça - apeçadentrodapeçadentrodapeça. e as personagens que mudam de atoratriz. e a leveza, mesmo quando a cousa pesa. e o humor. e tudo. gostei de novo da turma do diaz. gostei mesmo.


3º lugar: 4:48 psicosis
sarah kane, como diz a mesma amiga que lembrou do show sem bis, é aquilo: a mulher se matou, e isso diz quase tudo. os deprimidos crônicos, como yo, hão de concordar que há beleza no fim do precipício. 4:48 psicosis repousa exatamente lá. e é genial, mas nada tão down nesta montagem. a gente até chega a rir com a atuação da alejandra cortazzo, uma das mais incensadas da nova geração uruguaia (é, china, o tempo passa...). a atriz é tão tudo que até a sarah kane fica menos heavy. eu vi e dou fé.


3º lugar: crave
os menos afeitos fugiriam de quatro atores sentados o tempo todo, quase imóveis, despejando um texto dolorido como é este. fugiriam de um cenário básico, sobre o qual se projetam, o tempo inteiro, só imagens abstratas, uns fractais preguiçosos, pouco coloridinhos. fugiriam de uma trilha sonora tensa, densa, monocórdia. fugiriam de uma luz fixa, sem variações. fugiriam, por fim, de mais uma marretada da dramaturga-suicida. eu não fugi, e vi na montagem enxuta do argentino cristian drut, um dos melhores espetáculos de toda a minha vida. eu não fugi. ueba!


2º lugar: big in bombay
eu sabia nada sobre a coreógrafa argentina constanza macras quando li o recado da fernanda no orkut: 'vou a porto alegre fazer big in bombay. não sei onde vai ser, mas vai lá ver!' como não? esse puta talento que me escrevia esteve aqui ano passado, encarnando uma comovente lady grey by felipe hirsch (outro deus do teatro brasuca), e me ganhou na hora. então, nem pisquei antes de atravessar a sorridente capital, sem imaginar a maravilha que me esperava. voltei pra casa felizona da vida com a zorra que o pessoal da macras armou no palco. tipo refeição completa, sabe? tinha de um tudo: dança, teatro, música, vídeo, literatura, artes plásticas. reflexão contemporânea e bem humorada sobre o lixo da fama, e sobre o que é viver num mundo que parece uma cousa só, apesar dos muitos que somos. só deixei em segundo lugar porque concorrer com a turma da cartoucherie é covardia... quer saber? se a fernanda estiver no elenco ou a constanza macras na direção, é só se jogar que não tem erro.


1º lugar: les éphémères
ulalá! o que dizer desta gente, mon pére? tudo parece tão óbvio e surrado diante da experiência inédita que eles nos ofereceram. o grande salão de jantar coletivo. os camarins expostos pra nos mostrar que a arte está ao alcance de todos que têm espírito livre e curioso. o espaço cênico chocantemente generoso. a simplicidade de quem está lá pra nos lembrar que teatro é um dos troços mais humanos que existem, rejeitando mesmo o glamour que costuma revestir o artista. a forma comovente de contar histórias, muitas. a riqueza de detalhes dos palcos móveis. o som de tudo. os pequenos enredos que, de tão comuns a quem nasce do homem, nublam os olhos logo de cara. a vida desfilou na nossa frente e eu estava lá pra guardar tudo isso bem direitinho aqui dentro. sou mais feliz por ter estado na cartoucherie do guaíba. sete horas e meia de dor na bunda e um encantamento que nunca, nunca, nunca vai se apagar. e eu ficaria mais o tempo todo lá.

quinta-feira, outubro 4

imagem e semelhança

(valeu, velhota!)

terça-feira, outubro 2

pra desgosto da chefona

tô preparando um ranking subjetivíssimo do poa em cena pra postar aqui. antes disso, não me güento dentro das calcinhas e preciso mostrar dois trechos do início do les éphémères que catei no youtube.

ao que tudo indica, a cena foi sorrateiramente captada por um porteño que desrespeitou o pedido da diretora pra não filmarem ou fotografarem o espetáculo.

feio, mas eu entendo a vontade do hermanito de dividir a maravilha com o resto do mundo. taí, então. pardon, mademoiselle mnouchkine!

excerto da primeira cena:


seqüência da primeira, com a juliana carneiro da cunha fazendo a mãe no alto da escada: