sexta-feira, novembro 28

a ostensiva porquice da burguesia

ah, eu deveria ter desconfiado. o que poderia rolar numa inauguração em que o verissimo (compreendam: a natureza deste post exige pelo menos um link para a indelével caras) sopra vigorosamente seu sax e fala pelos cotovelos, enquanto a adriana calcanhotto autografa... livros?

foi a da primeira fnac (hip hip hurra!) da sorridente capital, assentada no novo - e metido a besta - barra shopping sul.

formadores de opinião (uia!), 98% do pib gaúcho e toda a sorte de esnobes e botoxentos disputavam a murros flûtes plásticas de miolo terranova e caixotinhas com cuscuz marroquino nadando em curry (valha-me, raçuda comida campeira!).

os (in)competentes organizadores da boca-livre esqueceram-se de espalhar lixeiras pela lojona e a excelsa elite gaúcha, com preguiça de arranjar lugar apropriado pra desovar os despojos, achou por bem dispensar a nojeira sobre a nobre mercadoria à venda.

o cenário era bisonho: filmes do buñuel milimetricamente cobertos por uma farofa amarelada e ensebada. ipods salpicados de álcool carbonatado. saramagos finamente decorados com migalhas de brownie. do chão, nem falo, que grossura pouca é bobagem, néam, meu filho.

e eu que, repugnantemente, insinuei dia desses que o novo e impoluto empreendimento logo seria conspurcado pelas hordas de maloqueiros moradores das adjacências, obrigo-me a morder minha pérfida lingüinha (tremas, sim, tremas, antes que a farra acabe): os verdadeiros selvagens vivem em triplexes, dirigem reluzentes audis e passam as férias em santorini. ou abduzem multidões meios de comunicação afora. ou tudo isso ao mesmo tempo.

nem o mais puro-sangue vileiro seria capaz de perpetrar aquela imundície. enquanto os serviçais recolhem os restos, passa a caravana de suínos pós-graduados. acumulando pérolas e granjeando fama, comme il faut.

3 comentários:

Leandro disse...

Ah... Mas esses sob a pompa e a circunstância são os piores!
São tão finos e refinados, com o traseiro cheio de badalhoca.

Ana Paula disse...

Não me assusto mais com a selvageria alheia. Os intelectuais e formadores de opiniões estão pela farofagem e por onde passam deixam o seu rastro de "pessoas civilizadas". Só faltou arrastão da classe elitizada.

mimi aragón disse...

leandro: e as moscas em volta, achando tudo so high. ai, ai.
ana: imagina a cena: 'passa aí esse teu rolex mais moderno que o meu, sócio!'. a propósito, sobreviveste a tudo? o cenário no fim do shô do gordo era mais dramático que guernica. oh!