sábado, março 31

bucho é bucha, meus nêgo!

ontem, no barranco, enquanto eu e a nini, carnívoras comedidas, traçávamos nossos costumeiros e singelos meio-espetinhos de porco e boizinho:

- vou morrer sem entender as pessoas que babam por essa mantona de gordura da picanha - mandou a nini, extirpando a cousa banhuda da carne tenra e bem passadinha.

- também acho e vou além: morro e reencarno 36 vezes sem entender como é que tem tanta gente por aí que não só quase goza comendo peixe cru, como ainda consegue eleger aquela nojeira a comida mais sensacional do mundo - respondi, abocanhando um generoso naco do delicioso lombão - e ostras? há quem engula aquelas melecas ainda meio vivas, se mexendo e tudo... bleargh! bleargh! bleargh!

- ah, eu gosto de ostras, oras! -
respondeu a nini (e nem precisava, porque eu mesma vi, mortificada, a guria mandando ver num prato delas bem vivinhas no pântano do sul, no dia em que a cássia eller abotoou, anos atrás).

- pois eu continuo a anos-luz desse tipo de epifania gastronômica. mas tem pior, quer ver? mondongo! mondongo e o maldito mocotó são hors concours!

- bá, se são! a melhor coisa de ir morar na minha própria casa foi jamais precisar aturar de novo aquele fedor que empestava o ar lá na mãe nos finais de semana.

- eca! ainda bem que lá em casa nunca rolou disso. se a minha mãe, a vó e a daida um dia gostaram dessa abominação, tiveram a decência de jamais me contar, ou pelo menos de comer aquela porquice absoluta bem longe dos meus olhos. por que mondongo, vamos combinar, bate todos os recordes: o nome é medonho, a aparência é repulsiva, a origem é inconcebível, o cheiro é horrendo e o gosto, bom, o gosto não pode ser razoável, com toda aquela catinga -
concluí, imperadora absoluta do paladar infantil, dando a derradeira dentada na carninha doirada do amigo leitão.

mais tarde, no zaffari, passamos pelo corredor das doçuras e a nini bateu os olhos no que parecia impossível - um concorrente à altura pro odioso mondongo: geléia de mocotó sabor morango!

caaalma! antes de ser abatida a pauladas, aviso que eu sei que se trata só da gelatininha gosmenta do ossobuco. não importa: quase devolvi meu meio-espeto do nobre regente. voltei pra casa e fui dormir enjoada, de verdade, tentando descobrir que tipo de humano dá dinheiro por ignomínias assim. ô, raça!

3 comentários:

Maroto disse...

o fato de que sempre tem quem goste é espantoso mas é uma das poucas coisas que redime a espécie humana

mimi aragón disse...

urubu, urubu, assim, tão magnânimo, tu vai acabar ganhando o nobel da pax. e esta vagem louca tem calafrios só de matutar o cardápio da cerimônia de premiação...

Marcia disse...

quanto preconceito lingüístico (haha) numa leguminosa só. eu só não entendo quem come fígado. o resto todo que eu não gosto e não como, tudo bem, eu até entendo. ostras por exemplo. eu não gosto. mas entendo. e acho sexy quem come. mas eu não sou uma pinta sexy, so...

e aquele atunzinho cru. bem bom. nham nham.