terça-feira, outubro 31

vida inteligente nas bancas

então, como eu ia dizendo, o jornalismo literário - ou o bom texto, como prefere a eliane - tem muito mais espaço reservado no gosto do leitor do que podem supor as fórmulas insanas da inteligentzia e do establishment.

prova disso é a revista piauí (brandida com júbilo pelo vitor necchi durante esse encontro sobre jornalismo literário), que chegou às bancas há menos de um mês, depois de ser lançada em meados de agosto na flip. o projeto é do joão moreira salles - o irmão mais novo do waltinho, que dirigiu o documentário 'entreatos', sobre os 30 dias finais da campanha do lula em 2002 - e sua condução foi entregue ao editor luiz schwarcz, dono e senhor da companhia das letras. também na equipe está um seleto pessoal do no mínimo, como o marcos sá corrêa e o xico vargas.

gestada na pança do cinema e da literatura, a revista mensal, no entanto, não pretende falar (só) de cultura. a idéia é abrir espaço pra uma vertente do jornalismo cujas peças são cada vez mais escassas na grande imprensa: a reportagem puro-sangue, aquela que não se preocupa com os grandes temas de interesse nacional, mas com histórias bem contadas sobre todas as tonalidades da experiência humana sobre a face da terra. tudo amarrado numa produção gráfica elegante: edição grandona (26cm X 35cm), papel bom (pólen soft 70g), ilustrações de craques como o angeli (que assina a capa), jaguar e alvim.

no primeiro número a gente se delicia, por exemplo, com matérias sobre o que se ensina nos cursos de telemarketing brasileiros; os detalhes da descoberta da menina salem, um bebê hominídeo que viveu na áfrica há 3,3 milhões de anos; um sujeito cuja profissão é experimentar e misturar pó de café; a inacreditável rivalidade religiosa entre vendedores de acarajé, na bahia; o estilo over do estilista guilherme guimarães, retratado pela caneta da danuza leão; a reentrada na atmosfera brasileira do genial ivan lessa, depois de quase três décadas de auto-exílio europeu; um conto inédito do rubem fonseca; uma versão em 12 quadrinhos de 'o sétimo selo', do bergman; um ensaio do fotógrafo orlando brito sobre o pavor que assola os homens de lula (ele, inclusive) em brasília; e mais dezenas de acepipes de letrinhas e imagens pra lá de apetitosos.

até os anúncios merecem atenção. tem da volkswagen, em página inteira, das havaianas, em página espelhada, e até um prosaico tijolinho de um produtor rural que aluga pés de jaboticaba em sua propriedade, em sabará/mg, para quem não vive sem, de vez em quando, devorar as frutinhas debaixo das árvores. formidável!

é como diz o anúncio de outra revista tribacana, a trip, publicado na estréia da piauí: 'a editora trip dá boas-vindas à revista piaui. agora ficou mais fácil encontrar alguém nas bancas para trocar uma idéia.'

mais uma barbada? então tá: promocionalmente, a revista, cujo preço de capa é R$ 9,50, tá saindo por módicos R$ 7,90. quem perder é mulher do padre.

2 comentários:

Unknown disse...

Hm, eu tava esperando tanto, mas tanto da Piauí, que me decepcionei com esta versão impressa do NoMínimo com cara de Caros Amigos :-(

Queria maaaaaais. Espero ansiosamente pelo próximo número...

mimi aragón disse...

ô, cassia, mas que exigente, guria! baixa a guarda e corre pra banca que o número dois já tá lá.