sexta-feira, setembro 22

vyasa e a geração gótica

e, lá pelas tantas, o mahabharata manda assim:

'só é feliz quem perdeu toda a esperança; porque a esperança é a maior tortura que há, e o desespero, a maior felicidade'.

trata-se da célula fundamentalista de uma velha estratégia de vida, daquelas a qual recorro quando o tempo fecha:

'melhor esperar o pior do que quebrar a cara'.

uns chamam de pessimismo. eu não sei se é bem isso, que, no fundo, não sou lá tão fatalista quanto pareço. e até desconfio que comecei a ficar melancólica depois de anos a fio escutando bauhaus, sisters, cure e dead can dance.

é, os 80 nos deprimiram, mas não troco minha soturnez por um mícron que seja de felicidade axé-pagodim-baba dos sertões.

bela lugosi's dead, baby! viva!

sexta-feira, setembro 15

buchettino na horizontal

sem vacilo, o espetáculo da socìetas raffaello sanzio foi a experiência mais surpreendente de tudo o que assitimos neste 'em cena' - e olha que a gente só viu cousas bacanérrimas, hein? a começar pelo atrativo principal do tal 'buchettino': assistir ao espetáculo deliciosamente escarrapachada numa caminha macia, com direito a cobertor e travesseiro. ulalá, que delícia! eu disse assistir? nada. o mais bacana é que a tal pecinha foi feita pra ouvir. isso mesmo: é tirar o sapato, deitar na caminha, cobrir o corpicho, fechar os olhos e só escutar a italiana monica demuru contar a versão original de 'o pequeno polegar'.

claro que também é legal espiar como ela narra a fábula infantil à moda medieval - com miséria, abandono, um ogro horrendo e famélico, urros e muito, muito sangue -, girando sobre um banquinho e debaixo de uma luzinha anêmica, mudando a voz, a expressão e o corpo a cada troca de personagem. mas nem precisaria enxergar cousa alguma: o clima sensorial que se cria com a penumbra, o conforto das caminhas e a sonoplastia produzida ao vivo é a grande sacada. como disse uma sujeita, logo na entrada: 'devia ser sempre assim!'. sempre, sempre, até nem acho, porque ia perder a graça. mas de quando em vez é bem bom ouvir uma peça, em vez de vê-la. deitadona, então, nem se fala...

terça-feira, setembro 12

für die kinder von gestern, heute und morgen

sonho adulto realizado.

de olhos e boca bem abertos, testemunhei a passagem do tanztheater wuppertal por porto alegre. como diz uma amiga, nunca pensei que veria pina bausch e trupe aqui na terrinha, e muito, muito menos, a dérreal. não dava pra perder. e eu não perdi, claro!

lutz förster (ou seria o dominique mercy?) 'dançando' o 'leãozinho', do caetano, já está eleita como a última lembrança que quero ter da vida antes que ela se me escape pra sempre. putaquelosparió!

baseado em nada - em luz cada vez mais baixa


sutil cia. de teatro.

thom pain - lady grey.

texto matador. direção exemplarmente cruel. dois atores-deuses. cenografia e luz essenciais.

resultado: me caiu a bunda toda. todinha. e fiquei muda.

bá!

quarta-feira, setembro 6

do banquinho à áfrica, por módicos 50 tostões

começou o poa em cena. e foi a calcanhoto (pra mim ela é assim, com um T só, ora bolas!) quem abriu a cousa, pra um são pedro apinhado de segundocadernáveis. diz que foi a estréia nacional do novo chô da cantriz. se é verdade mesmo, só fã vai curtir aquele formatinho tão clj de voz-e-violão, pro qual eu torço nariz meeesmo, se não for um puta instrumentista no palco. e a calcanhoto é bacana e tudo, mas tá longe de ser uma virtuose no popular seis cordas. é, até que ela se esforça: o melhor momento do chô foi justamente a hora em que ela puxa um cello(!) e coveriza a madonna(!) na excelente 'music', com direito a citação de 'eu não sei fazer música'(!), dos vetustos titãs. nada mais insuspeitado, pois, e, olha, ficou ducarai!

ela tanto sabia que aquele era o melhor que ela podia oferecer à avidíssima platéia (quatro anos sem tocar em porto alegre, vai rolar até um extra hoje no final da tarde, tamanha a procura pelas poltronas de veludo do embasbacante teatro - ou theatro, pros puristas), que emendou direto um 'vambora' clássico e encerrou o espetáculo rapidinho.

tá bom, tá bom: a sujeita tem um humor bacana, chafurda na ironia inteligente e conta uns causos engraçados entre as músicas, mas isso só não sustenta o tal voz-e-violão. tá bom, tá bom: ela é uma puta compositora, canta muito melhor hoje que nos descoloridos anos 80, tem um repertório sofisticado. mas aquele esquema de perninhas cruzadas, uma canção na cabeça e um violão nas mãos, sei não... enfim, gosto é como cu: cada um tem o seu.

já disse que o melhor foi a versão bacaninha da madonna. mas eu menti... foda mesmo foi ver a pina bausch, que tava na platéia da calcanhoto, passar a centímetros de distância da ponta do meu nariz. que frio na pança me deu! a revolucionária fraulein é gênio e ponto. na sexta, vamos assistí-la lá no sesi. depois, babaremos com o novíssimo felipe hirsch ('thom pain - lady grey'), aboletaremo-nos em fofas caminhas pra ver o 'buchettino' e, por fim, conheceremos o som do incensado congolês lokua kanza. tudo, tudo por modestíssimos 50 pilas por pefoa. sim! dérreal cada petáculo... mais barbada, impossível. ufa, cousa boa, começou o poa em cena!