sexta-feira, dezembro 8

100m, freestyle

nas letras, como na água, meu fôlego não é pra mergulho de apnéia. sou nadadora. meu negócio é a superfície, ainda que me aventure, quase nunca, a coisa de três ou quatro palmos abaixo da linha d'água. no mais das vezes, bato perna, dou braçada, giro o pescoço pra inspirar e puxo-o de volta pra expirar. até treino mais de um estilo, mas acabo ficando sempre no que domino melhor.

nas letras, como na água, mergulhar me dá um baita pavor. de afundar no mar, sujeita aos humores da correnteza, ou na água doce e turva, sujeita aos mistérios submersos, morro de medo e digo que não, não vou. e, no entanto, do topo de uma pedra, de uma duna, ou lá de cima, voando bem alto, o mar é tão tentador e os rios e os córregos, as lagoas e as cachoeiras são tão bonitos de espiar...

nas letras, como na água, por segurança, cagaço ou conveniência, só pratico o fôlego curto. prefiro cair na piscina clara e limpa das idéias simples e rápidas, tiro sem ricochete. deixo as profundezas abissais, as grandes densidades, pra quem delas se nutre e, depois, as regurgita, pro bem ou pro mal. e quando canso de ser assim, tão óbvia, evasiva e superficial, eu solto o corpo inteiro e bóio. ah, eu bóio! mas nunca me deixo levar pra muito longe, porque jamais tenho certeza se vou ter braços e pernas pra volta. melhor não arriscar.

nas letras, como na água.

8 comentários:

Dalva M. Ferreira disse...

Uia! feliz comparação... tem mesmo aqueles uns que vivem na zona abissal. São feios, e andam com lampadinhas acesas na ponta da antena. O que eles regurgitam ajuda a fazer o quê? Petróleo, só se for! O bonito é arriscar assim, com a consciência das limitações...

mimi aragón disse...

ó, gracias pelo quinhão que me toca, dalva, mas tenho absolutamente nada contra as criaturas das profundezas. ao contrário, tô convencida de que o mundo precisa demais delas, que têm ar suficiente nos bofes pra mergulhar lá no fundão e subir à tona trazendo, pendurado nas lampadinhas, um olhar diferente sobre as cousas. o que seria da gente sem esse fôlego, né não?

Anônimo disse...

LINDO TEXTO!PARABÉNS!ATÉ QUE TU ESCREVES DIREITINHO...BJS.

Telejornalismo Fabico disse...

*


cadê o texto que postei aqui ontem?
é censura, é?


assim, ó: não concordo com a visão que vc tem de vc mesma, tá?
mas fazer o quê, sou obrigado a pagar pau pra beluzura da escrita. é dom, xuxu.

o que me preocupaé que afundo feito pedra quando caio n'água, não sei dar uma braçada.

onde me encaixo nessa história?
:s



*

mimi aragón disse...

xôn, acho que, aí, tu é a própria água. mas também discordo dessa tua autocrítica: já te vi submergir - e emergir - com a mó pinta de batiscafo que sabe onde afunda, glub, glub!
de qual texto tu tá falando, homem da arábia? aqui não tem censura, aqui ninguém é obrigado a nada. ói que tu postou na url errada, hein...

Ana F disse...

Beeeem, sou obrigada a não concordar com o belo texto de vossa senhoria... Ir fundo MESMO, é polir tanto as superfícies (muitas!) de modo a mostrar o absoluto, o inquestionável âmago: o que é feio e o que é belo, as verdades e mentiras, o osso, o nu imperfeito (porque incabado, posto que humano! material, mas totalmente íntegro!). Sou viciada em tuas letras! Mimi na veia, direto - recomendo a todos!

Telejornalismo Fabico disse...

*


aqui, xuxu.
respondi logo que vc postou.
voltei e cadele?
agora tenho certeza que vc é uma pequena pinochezinha...
huáhuáhuáhúahuáhuáhuá
- não bate na cara que a freguesia foge -


*

mimi aragón disse...

doce papila: o vício é recíproco, sas? e com tanto elogio bacana, por certo vou ficar in-su-por-tá-vel! rareriroru!

liebling tuaregue: começo a desconfiar que o novíssimo ectoplasma chileno tá brincando com as nossas postagens... vou já num jogo do copo intimar o velhote!