sexta-feira, agosto 25

little big town

porto alegre tem aquele ar de metrópole interiorana. e antes de ser linchada pela antítese aparente, lembro que até o poeta centenário, aquele do mapa da cidade, já disse algo parecido com isso. afinal, em qual outra capital a gente pode encontrar amigos e conhecidinhos ao dobrar uma esquina qualquer? em são paulo, a chance de isso acontecer é de uma em duas dezenas de milhões. no rio, a gente só encontra os amigos no circuito leme-leblon. tá, um pouco na lapa e em santa teresa também. mas bem pouco. e não vale considerar os famosos nesse inventário de coincidências.

porto alegre tem aquele ar de metrópole interiorana, sim. e é essa a face mais simpática da cidade, me desculpem os fanáticos por desenvolvimento acelerado. eu gosto da possibilidade de sair e dar de cara com conhecidos. dia desses, fui ao zaffari ipiranga e encontrei um amigo muito querido - profissional dos mais experientes, que me ajudou a enfrentar sem medo um desafiozão de trabalho, um par de anos atrás. andava eu pelo corredor das cocas e bohemias quando ele vem saindo da seção contígua. nos abraçamos, nos relinchamos e ele me disse, meio rindo, que eu era a quarta pessoa conhecida a quem ele encontrava ali, desde que havia posto os pés na loja. e eu brinquei que o zaffari ipiranga era um dos piores lugares do mundo pra estar naqueles momentos de reclusão, quando a gente quer fugir de tudo.

noutro dia, voltando de T3 pra casa, depois de um dia cheio, vi caminhando pela goethe outra amiga querida, essa dos tempos de famecos, com quem falo eventualmente pelos comunicadores instantâneos da vida. final de tarde, lá iam ela e o marido - a julgar pelas expressões, cansados de guerra, loucos pra esticar as pernocas confortavelmente instalados em casa. iam, portanto, na direção oposta ao ipirangão...

pois ontem precisei ir até a zona norte, entrevistar um sujeito pra uma das revistas que estou fazendo, e peguei um táxi, atrasada que saí. o carrinho vermelho embarafustou-se terceira perimetral acima e eu fui espiando o caminho pela janela. a via, novinha em folha, é uma mão na roda pra quem precisa atravessar a cidade todo santo dia. ficou um espetáculo, é verdade, mas tem uma cara de são paulo que vou te dizer! é aquele esquemão de corredor largo, expresso, com um viaduto aqui, um túnel ali, serpenteando a cidade de sul a norte - ou o contrário, tanto faz.

bom, lá ia eu, me admirando com os prédios novos da carlos gomes (que também dão a maior pinta de paulistanos), quando passa um auto com outro conhecido - locutor dos bons, com quem trabalhei várias vezes. ele andava no banco do carona e, enquanto eu abanava, paramos numa sinaleira, logo depois de um dos portentosos viadutões, na frente de um dos arranha-céus a la avenida das nações.

na calçada, uma turba de japoneses ririririri-nô? esperava o sinal pra atravessar. quer coisa mais paulistana que japas barulhentos andando em bando pela rua? nossos carros arrancaram e eu fiquei com meus botõezinhos, pensando: 'que medo! porto alegre tá ficando com cara de são paulo'. inda bem que o amigo do palio ao lado inda me deu tchauzinho, antes de sumir no meio do trânsito maluco. ou eu ia começar a achar que a minha cidade tava perdendo a atmosfera interiorana...

2 comentários:

Anônimo disse...

"afinal, em qual outra capital a gente pode encontrar amigos e conhecidinhos ao dobrar uma esquina qualquer?"

resposta:
em belo horizonte.

mimi aragón disse...

nunca fui a bh, anônimo. mas calculo que as cousas sejam semelhantes aqui e aí, sim. nós e vocês vivemos na periferia do eixão - e nesse universo paralelo, todo mundo se conhece mesmo.