segunda-feira, março 31

anticisne

na negra correnteza
dos sonhos abortados,
o mais feroz é aquele
que se quis pesadelo,
mas veio assim, belo.

apartados no parto

quinta-feira, março 27

sábia símia

mamãe, macaca histó(é)rica, me liga no final da noite de ontem, logo depois que os reservas imortais patrolaram os amarelos de campo bom (e não me venham com o trololó de que o pobre cusco já tinha batido as patinhas):

- o grêmio reduziu o 15 de novembro a 2 de novembro...

c'est ma mère, a única cocolorada que eu amo com toda a força do meu coraçãozinho celeste.

(ah, sim: foi mesmo antológico o gol que o ex-macaco-revelação aplicou na suecada. mas vê bem a cor da camisa que ele tava usando, néam.)

terça-feira, março 11

apartados no parto

quinta-feira, março 6

inesquecível mestrezão

o mestrezão me ensinou a usar direito os porquês e a empregar a crase na hora certa.

houve mais lições, que agora eu não lembro (desconfio que uma delas era sobre a impessoalidade do verbo haver). mas juro que todas resultaram na minha relativa facilidade em lidar com as letras.

acho que foi também por causa das aulas hilárias do mestrezão, lá no universitário, que entrei na famecos em grande estilo. a saída, bom, a tortuosa saída não teve nada a ver com ele.

nunca esqueci o cara abrindo a camisa no meio da sala lotada pra exibir o peito pelado, murcho e feioso, que ele chamava, às gargalhadas, de 'selva erótica'. e tinha também aquela bisonha galinha de borracha que apavorava as colegas mais chiliquentas (tinha um nome, a quase penosa, mas agora eu também não lembro).

era um pândego, o mestrezão. e por isso (seria 'isto', mestrezão?) vai fazer uma falta danada, porque a maioria das gentes justifica seus problemas com a inculta e bela dizendo que pagou os pecados nas mãos de professores carrancudos e espartanos.

eu não. eu tive o mestrezão e, muito antes das aulas em carne e osso, houve os livros do mestrezão. sorte a minha. as novas gerações jamais vão saber usar direito os porquês. e sempre vão errar a hora certa de empregar a crase.

vai lá, mestrezão, ensinar pros colegas de eternidade como falar e escrever sem dar vexame. que lição assim, e um gênio assim, como tu, não há jeito de esquecer.

quarta-feira, março 5

terça-feira, março 4

bem-vindo faniquito

‘mas só pode ser chacota!’, berra tio aparício lá do quintal, antes de trotar pra dentro de casa, furibundo, brandindo a edição de hoje do tablóide local.

‘o problema não está em os veteranos saudarem esse ou aquele aluno, que uma cousa não exclui a outra, compreende? o vexame é que os acadêmicos da ufrgs, considerados os mais capacitados, dado o estreito funil do ingresso, deveriam dominar o idioma pátrio. mas não: os calaveiras vão lá e sujam a parede com este tumor ortográfico: bem vindos. ignoraram o hífen, minha filha! o indispensável hífen! e ninguém diz um ai sobre tamanho assassinato? onde é que nós vamos parar? valha-me, rui barbosa!’.

nem piei. o tio aparício é um tipo bem irascível, mas tá empapado de razão. mesmo que pareça exagero invocar a águia de haia por conta de um inocente hifenzinho.

segunda-feira, março 3

enquanto isso, na prefeitura mais próxima...

leio por aí que o ministério público investiga mais de 440 prefeituras em são paulo por indícios de corrupção.

arram. 440 municípios paulistas na mira da justiça. o estado todo tem 645. isso dá algo perto de 70% das prefeituras suspeitas de pura gatunagem.

ou: o rio grande do sul reúne 497 municípios. é como se houvesse quase um rio grande inteirinho roubando dentro do estado mais abastado do país.

e isso só em são paulo. imagina os outros 25 federados.

existe um jeito de limpar tanta bosta? cada vez desacredito mais. mas tem eleições municipais este ano. pelo menos dá pra tentar passar um paninho na cacaca.

agora, com perdão pela crueza, dá licença que eu vou ali na casinha vomitar e já volto.